sexta-feira, 17 de junho de 2016

É preciso

É preciso doer, gritar, morder os lábios,
encerrar as pálpebras, chorar…
É preciso esticar o tronco, despir,
pele nua contra o lençol da morte,
pairar sobre o vazio, sentir pender a cabeça
sobre uma almofada de lágrimas espessas
e um tubo sugar-te as entranhas tóxicas
para saíres da sombra onde te escondes.

É preciso cerrar os punhos, prender o último sopro,
projectá-lo nos olhos que se estendem por dentro do corpo…
É preciso saber de que matéria somos feitos,
que fantasmas nos atormentam o pensamento
e chicoteá-los com a serpente que nos lambe o veneno.

É preciso atravessar este caminho íngreme e lúgubre,
partir em direcção ao mar e ao sol,
pisar a areia molhada e saborear a maresia salgada,
voar por dentro para me descobrir
e libertar das lágrimas e da escuridão
que me consomem viva…

É preciso…
para abraçar este novo mundo de magia
que se fecunda em florestas, roseirais e pomares,
voa no dorso das andorinhas, poisa nos ninhos das cegonhas
e mergulha junto de golfinhos, algas e corais marinhos.



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