domingo, 20 de dezembro de 2015

Liberdade



Procuro-te com água na boca quente...
O corpo ereto e humedecido que me acaricia o ventre,
prendo-te entre as mandíbulas de carne viva
e engulo-te lentamente entre língua e garganta...

Dispo-me sob a noite fria e estrelada,
absorvendo-te o hálito licoroso
que me escorre entre os lábios da vulva.

Derreto-me na tua saliva a ferver,
cavalgo-te nua sem freio nem rédeas,
livre para te devorar sem receios.

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Partida

O asfalto rijo cola-se-me ao corpo febril e nu...
Inspiro devagar o oxigénio que me chega aos pulmões
em sulcos de fumo e poças de água turva,
estou viva mas em estado de coma emocional...

O nevoeiro cerrado cerca-me a vista agora cega,
o vento empurra-me a pele dormente e pálida,
os ossos gemem mas as veias continuam adormecidas...

No cume da serra polvilhada de branco macio,
vislumbro um horizonte azul e luminoso,
banhado por teias de orvalho morno...

Quero habitar-te planeta mágico e surreal
e abandonar esta existência sem sentido...


sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Renascer no submundo

Germinei em viúva negra,
danço sobre tentáculos de veludo
nesta teia que ferve
suor e lágrimas,
humedecendo-te o corpo estéril.

Sorvo as últimas gotas de sémen
que destilas em convulsivos orgasmos mudos,
cravo-te as mandíbulas afiadas
na carne viva que ainda pulsa
dentro dessa carcaça de réptil,
chupando-te o último suspiro
que palpita nessa ereção involuntária,
onde ejaculo charcos transparentes,
prenhes de futuros invisíveis.

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Serpente

Esfumaço-me em pó estrelar
que se liberta dos teus lábios humedecidos...
Sulcas-me a vulva em erupção,
és prisioneiro do meu ventre líquido.

Serpenteio sobre o teu corpo hirto
em espuma quente e vadia,
escorrendo pela tua glande ereta
sob o véu prateado da lua cheia.

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Inflamação

Como arrancar da carne viva
a viscosidade daninha que te infeta a vida,
o doce  fel que te penetra o ventre moribundo,
devorando-o em espuma e sal...
Mar que engole a areia húmida
prestes a explodir contra as rochas vulcânicas
que te circundam o corpo inconsciente.

Como apagar essa cor violeta
que te mancha o rosto adormecido,
as sombras negras que desaguam nos olhos
numa aguarela mutante sem fim.

De lábios comprimidos um no outro,
tento não expelir este grito mudo
que me fere a garganta seca
com punhais de álcool etílico.

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Chão sem sonhos

Subo a rua vazia de tudo,
prenhe de sombras e fantasmas,
ventre de calçada suja,
intumescido por baixo das solas duras
que te pisam com raiva…

Prestes a estalar a placenta ácida
que germina nas tuas vísceras
e que nos corre nas veias negras,
que nos circunda os pulsos algemados
e os lábios aprisionados…

Enquanto os olhos esvoaçam,
criam nuvens e céu azul,
pintam universos encantados e luminosos
por cima do precipício que se aproxima…
De olhos fechados,
ensopados em mar,
mergulho na escuridão cerrada
que persegue os que deixaram de sonhar!



sexta-feira, 5 de junho de 2015

Despertar

Calcamos o sol ardente no asfalto negro,
esperando o alívio da chuva fresca
no rosto cansado e nos pés queimados.
Mas continuamos a caminhada dura
num sufoco de suor e lágrimas,
desbravando o horizonte pérfido
que brota do vapor quente da terra,
marejando-nos os olhos de ilusões.

Que os céus nos despertem desta embriaguez inconsciente,
sedenta de escravos e sonâmbulos,
presos em máscaras cinzentas.
Caiam trovões e raios de luz
adormecidos nas entranhas
para aniquilar a apatia
que nos devora dia-a-dia.

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Centopeia

Rastejas faminta, trémula
sobre cem tentáculos viscosos
pelo nervo vago e invisível
que amarra o cérebro ao estômago,
condenados a uma prisão em fúria
a uma dicotomia bélica e doentia
entre a prudência racional
e o impulso mais instintivo.

Desvias-te de cada raio de luz
que dispara entre os filamentos nervosos...
Agarras-te às paredes internas do meu corpo,
desfiando golpes profundos que me vêm à boca...
Envenenas-me com a tua gosma ácida,
que deixam um rasto de pegadas de sangue e carne viva
e sucumbo em espasmos contínuos
de lava e cinza!

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Verbo indígena

Arranco esse tom frio e áspero
que sufoca o verbo indígena
das tribos vermelhas
que habitam as florestas amazónicas…
essa aguarela gélida e pálida
da paleta de tons poentes e nórdicos
que estrangula a palavra em fúria
que se solta da minha boca,
em golpes de chama, cor de sangue.

Toco-te esse corpo híbrido de escamas e pele
com a língua quente que me lambe as feridas,
as pestanas negras e pesadas de uma noite em claro…
E mergulho nesse rio que explode
em espuma e azul
nos lábios que me suportam o tronco febril e líquido…



Chuva e sal

Sombras de chuva e sal
dançam na minha íris escura,
que se abre em flor para ser tua,
da terra fofa e húmida
de onde brotam caules fortes e copas frondosas…

Bebo a água dos olhos
que se erguem do chão para o sol
do infinito azul para o vazio cálido,
atenuando a luxúria insaciável
que me explode nas veias dilatadas…
Destilo cálices de licor translúcido
sobre corpos ardendo em chamas!



sábado, 11 de abril de 2015

Mutações

Procuro a luz agora submersa
no mar de espuma salgada...
Esse raio de sol quente e rubro
que me fervia a alma revolta,
que me impelia contra as rajadas de vento,
sacudindo-me o cabelo negro no céu claro!

Procuro a doçura do entardecer violeta
que se espraiava lascivamente no meu ventre
em asas de borboletas e pirilampos cintilantes...

Procuro essa inexistência que me angustia
e me traça um caminho íngreme e escorregadio,
empurrando-me para um rio de águas mortas.

Alimento da carne e da alma
escasseia nestes dias de fome e melancolia.
As árvores secaram e as flores perderam o perfume.

Insetos famintos sugam-me os últimos pedaços,
que me sustentam neste caule apodrecido,
carcomido pela vontade inerte e utópica
de resgatar das profundezas desta caverna
a chama que me aquecia em dias de Inverno.

A dor de cada dentada
crava-se-me na garganta e dissipa-se
no marulhar dos meus olhos tingidos de noite...
Caem-me sementes de mágoa transparente
nesta terra outrora fértil e voluptuosa,
plantando-me trepadeiras de grossas raízes,
sedentas de água e matéria-viva em estado virgem.