sábado, 19 de janeiro de 2013

Menina do Sol



















Traças-me o corpo com essa invisível capa de cetim,
abraçando-me num sopro fresco de inverno pálido
que descreve telhados de neve e ramos despidos.
Mas o teu hálito escalda-me o ventre em labaredas,
libertando esse vapor quente e macio que derrete 
as pequenas estalactites que nascem em cada braço de ferro:
o portão do parque ou o arco sobre o caminho prateado,
noutra época verde de folhas de plátanos imponentes
que abrigavam rolas e esquilos, rebentos de morango e alecrim.

Procuro as horas, os dias e os meses, ininterruptamente
como se os devorasse à velocidade dos meus passos nus,
que correm sobre o asfalto de gelo escorregadio...
Mas o minuto demora-se nas quedas que me golpeiam os joelhos e as mãos...
O rosto aninha-se-me nos braços cruzados ao peito quase dormente,
enquanto imagino o regresso dos campos verdejantes 
com os roseirais e as laranjeiras selvagens
saciando-se junto da nascente de água morna e cristalina
que despertara da estação mais fria do ano.

Sem comentários:

Enviar um comentário