quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Sonho

 

Escuta a neve uivando na janela prateada,
cada floco de gelo derretendo na tua boca,
enquanto as mãos estremecem no fogo do meu ventre,
enquanto uma nuvem trespassa a última luz do dia
e um relâmpago violeta penetra essa fofa camada de céu...
Vêm as sombras do crepúsculo com asas de corvos,
uma porta abre-se, rangendo-te nos dentes brancos
e uma página solta-se do teu livro de memórias proibidas,
onde uma lua repousa abraçada a uma estrela sem vida...
Pirilampos e borboletas desenham-me um barco de papel
onde por fim adormeço esperando a tua visita!


sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Noite de Outono















O lento despertar de uma clara luz de Outono
sussurrou-me o líquido marulhar de um riacho
que despontara das raízes grossas
de um rochedo velho e imponente…
A geada beijou-me as pálpebras semi-abertas,
perfumando-me o rosto com as tulipas e rosas
que nessa madrugada tinha pintado de rosa e violeta.
Cada pedaço de nuvem que me cobre os pés nus
é um tapete ambulante e voador
que eterniza o sonho já acordado
e que agora viaja para outros destinos,
onde as estrelas e a Lua brilham solitárias
na densa escuridão de um firmamento desconhecido.
Esgueiro-me numa das cinco pontas cruzadas,
tão brilhantes quanto um cristal dourado
e observo a luz refletida nesse véu cinza
com que me deito todas as noites!

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

A Principezinha!

Teces uma malha cinzenta e opaca
sobre as lágrimas agora embalsamadas...
São duas lentes com que olho o mundo velado,
sem nuvens, sem azul, sem pulsação...
Hastes que me aprisionam o rosto tolhido em pó,
escondido nesta almofada invisível,
clausura de vidro... e uma folha branca.
Desenho um novo planeta pleno de sorrisos,
cardumes em rios critalinos,
florestas sem cinzas ou túmulos humanos.
E escondo-me nessa linha de grafite,
tão fina como a teia que se esconde nos meus cabelos...

Viúva negra caminhas sobre os meus braços,
deténs-te no pescoço delgado!
Vampira que me crava as mandíbulas...

Arqueio sobre a lama quente,
destilo-me sobre a terra embebida em sémen
e ressuscito noutro corpo.


quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Prisioneiro


Declino o verbo que germina na tua boca...

Desliza dos teus lábios para a minha língua

enquanto o marulhar sereno dos nossos corpos

se deleita no horizonte violeta...

Um uivo grave sussurra-me nas entranhas húmidas...

Estremeço na areia fina,

a espuma branca despiu-me o vestido de seda

e acaricia-me os seios hirtos e nus

enquanto me desfloras cada poro dilatado

com beijos salgados!

Enlaço-te entre suor e saliva,

és prisioneiro do meu inferno!

Ondulo ferozmente sobre o teu plexo rijo

como se galgasse as rochas que se estendem no paredão deserto!

Uma neblina clara de iodo abraça-nos enquanto amanhece...