sábado, 9 de outubro de 2010

Olhos lívidos

















Olhos lívidos pendem-me das cortinas escuras,
são gotas espessas escorrendo pelo vidro gelado
e no parapeito uma poça salgada e difusa
onde vejo o meu rosto desfigurado.

Escondo as cicatrizes nas noites sem luar,
quando as montanhas se dissipam no horizonte
e o céu tinge-se de negro absoluto...
é um véu que se abate sobre a terra clara
e apaga qualquer vestígio de luz.

Morcegos, corujas e mochos,
insectos e lobos
são os únicos sobreviventes desta clausura.
Devoram as presas com prazer e gula
protegidos pela cegueira dos animais diurnos.

Escuto os gemidos atrás da folhagem húmida...
...começou a chover...
o vento empurra-me as portadas de madeira fina
sacode os ramos seminus dos carvalhos
agora ainda mais despidos e solitários
E as nuvens fogem da aurora matinal
cavalgando para a linha umbilical
que prende a terra ao mar.

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