terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Sepulcro
















Secaram-me as fontes nocturnas

que jorravam estrelas pálidas,

nuvens densas e escuras

sempre que o Sol se punha

no horizonte desmaiado de violeta!


Nas pestanas carrego insónias

e nos olhos a névoa da madrugada…

Seguro nas mãos lívidas

o orvalho das plantas

e a luz cristalina da aurora…


Escavo na terra árida,

cravo as unhas na memória

e reencontro os espelhos de água

onde banhava o corpo cansado!


Mas as fontes secaram…

E as cinzas deslizam-me pela face…

Debaixo de cada pálpebra,

mora o sepulcro da vida!




domingo, 24 de janeiro de 2010

E as nossas Ondas?



















Fonte da imagem


"As Ondas" é das obras mais profundas e intensas de Virginia Woolf, ícone da literatura britânica que, aos 59 anos de idade, decidiu pôr termo à vida.

Neste incrível teste aos limites do ser, Virginia explora fantasias, sonhos, frustrações e tristezas de seis personagens, acompanhando os seus percursos, da infância à velhice. Três rapazes: Bernard, a onda extrovertida e comunicadora mas superficial; Louis, de uma esplêndida rigidez e racionalidade, vive fechado sobre si próprio; e Neville, um poeta solitário que esconde a homossexualidade. Três raparigas: Susan, a onda de olhos verdes que habita o campo e sustenta a família; em Jinny a sensualidade e a beleza dançam no vestido; e Rhoda, mergulhada na melancolia das chuvas salgadas.

Percival é a sétima onda. Escutamos a sua rebentação no mar revolto, conhecemos a ousadia com que cavalga rochedos e penetra em grutas desconhecidas através de outros murmúrios e vestígios de espuma abandonados na areia. A sua coragem é sublime, a sua morte dramática e corrosiva... a finitude humana desaba sobre os seis corpos que se julgavam imortais!

Virginia conduz o leitor numa aventura de vários rostos, sempre através de monólogos interiores. Questiona o sentido da vida, da existência, exibe sem pudor os nossos medos e fraquezas. Nós, simples ondas que habitam um oceano imenso que dita as suas próprias leis, de compreensão difusa.

Seis ondas que refluem nas paredes internas de Woolf. E quantas habitam o nosso mar interno?
Foi esta esquizofrenia que levou a escritora à loucura e ao suicídio, a 28 de Março de 1941.




















Virginia Woolf por Vasco

domingo, 17 de janeiro de 2010

Sílabas

















Sílabas de cristal translúcido,

geladas do Inverno agudo,

moram no pico árido e rochoso

das montanhas acres da língua!


Ácidas como os citrinos verdes,

soltam-se em dardos afiados

contra os lábios meigos e sedosos

que lhe barram a escapada furtiva.


E, enquanto um sorriso pálido

me pinta o rosto sombrio,

a boca encerra feridas e aftas

no seu interior de veludo violeta.


Caiem-me as pálpebras

com as chuvas da noite!

Os dentes amordaçam-me o verbo

e a goela estrangula-me o berro!

Engulo as sombras famintas

e as nuvens de trovoada

explodem-me no ventre!

CURTA 2 - Best Of











23 de Janeiro, 21h45 | S. João da Madeira

As três curtas-metragens mais votadas pelo público voltam à cena, para um debate moderado por Américo Santos, director do Cineclube de Santa Maria da Feira. No final, será projectado "Rasganço" de Raquel Freire.

O público votou e escolheu os três melhores filmes da CURTA2 – Mostra Nacional de Curtas de S. João da Madeira: “A um passo de ser” de cinco alunos sanjoanenses, “A ascensorista” de um grupo de amigos do Porto e “Deus não quis” da produtora Zed Filmes. As películas regressam aos Paços da Cultura de S. João da Madeira, dia 23 de Janeiro, às 21h45, para uma sessão especial, organizada pela Associação Cultural Teia dos Sentidos.

Américo Santos, director do Cineclube de Santa Maria da Feira e do Festival de Cinema Luso-Brasileiro, vai moderar o debate entre os vencedores da mostra. A encerrar, será novamente projectada a longa "Rasganço" da cineasta Raquel Freire, convidada especial da segunda edição desta mostra. A entrada é gratuita.

No ano passado, a CURTA2 mostrou, durante três quentes noites de Julho, 22 filmes da Escola Secundária Serafim Leite de S. João da Madeira, do cine-clube de Avanca, das universidades Católica do Porto, da Beira Interior e de Aveiro, do centro de assistência social Castiis, da produtora Zed Filmes de Coimbra e de um grupo de amigos do Porto.

No primeiro dia, a preferência do público foi para “A um passo de ser”, a primeira curta-metragem de um grupo de cinco estudantes do 12º ano da Escola Secundária Serafim Leite de S. João da Madeira. Daniel Lima, Fabiana Barbosa, Iolanda Tavares, Maria Carlos Cardeiro e Maria Miguel Cardeiro construíram uma curta-metragem, utilizando a técnica de animação por stop motion. A película conta a história de alguém infeliz, que tenta ser outra personagem, deixando-se influenciar pelos cânones da sociedade.

“A ascensorista” foi a curta mais votada no segundo dia da mostra. É uma comédia muda e legendada, realizada pelo portuense Nuno Gouveia, de 36 anos, com a ajuda de mais três amigos: Mafalda Amorim, Rita Marafuz e Nuno Quental. O filme gira em torno de uma ascensorista assassina. Quando transporta uma cliente indecisa, recebe um passageiro sinistro, um terrorista interessado em desviar o elevador para o piso -3. Indignada com a situação, a passageira ameaça o terrorista, exigindo a reposição da ordem até que a pacata ascensorista acaba por assassinar os dois agitados tripulantes.

A produtora Zed Filme ganhou o troféu do público no último dia da CURTA2, com “Deus não quis”. A partir dos versos da canção popular “Laurindinha”, o realizador António Ferreira narra a história de Ramiro, um rapaz novo, que parte para a guerra. No regresso, perde o amor da sua vida – Laurindinha.


Nota biográfica
Américo Santos
É director do Festival de Cinema Luso-brasileiro de Santa Maria da Feira desde a sua criação. Frequentou o curso de cinema e vídeo do FAOJ, especializando-se em montagem. Foi assistente de realização dos filmes "Fora de Campo" e "Who's Who", director da Federação Portuguesa de Cineclubes e programador cultural na Feira Viva E.M..
Desenvolveu várias acções de divulgação do cinema português no Brasil, elaborando programas e indicando filmes para festivais.
No CURTA-SE, Brasil (Sergipe), foi homenageado pelo trabalho de divulgação das cinematografias portuguesa e brasileira no CURTA-SE.
Actualmente, desenvolve um projecto de cooperação cinematográfica com o Brasil.

A CURTA 3 já tem data marcada: de 21 a 23 de Outubro de 2010, no auditório dos Paços da Cultura.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Lhasa Sela



2010 nasceu mais pobre, sem a voz de Lhasa Sela. Faleceu a 1 de Janeiro, vítima de cancro da mama.

Filha de um escritor mexicano e de uma fotógrafa e antiga actriz americana, Lhasa de Sela nasceu nos Estados Unidos. Durante a adolescência percorreu o seu país de costa a costa e viveu no México.

Aos 25 anos, com residência fixa em Montreal, Canadá, editou um dos mais belos e melancólicos álbuns deste ano. "La Lhorona", figura mítica dos Astecas seduz os homens aos primeiros acordes de uma canção triste, para os beijar e transformar em pedra. Um enredo que dá o mote à música triste, intensa e dramática que Lhasa e Yves Desriosiers arquitectam.

Em 2003, lançou “The Living Road” e, no ano passado, o homónimo “Lhasa”.

Falando sobre si diz: "Eu nunca quis ser uma estrela pop. Queria fazer música do fundo do meu coração. A carreira artística é importante, mas para mim a minha vida tem ainda mais valor. Quero ser verdadeira para comigo. Senão sou apenas uma operária da música."

A obra musical de Lhasa mescla tradição mexicana, klezmer e rock. É cantada em três idiomas: espanhol, francês e inglês.






terça-feira, 5 de janeiro de 2010

My Wonderland




Imperdível...
"Alice no País das Maravilhas" de Tim Burton, com Johnny Deep no papel de Chapeleiro Louco!
5 de Março de 2010 vou regressar ao meu Mundo!

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Último sopro



"Svo Hljótt", Sigur Rós do álbum Takk (2005)

Viajo neste cordel a que chamam vida sem perceber muitas vezes o quão ténue é a margem que me impede de cair! Mas alguém consegue quantificar o valor de estar vivo?

Só quando nos deparamos com a morte é que algo irrompe do nosso interior e nos faz parar. STOP à azáfama quotidiana, aos gestos mecânicos, automatizados, à chave no carro, ao pé no acelerador, ao bom-dia e boa-tarde escondidos, quase invisíveis.

Os olhos projectam-se em lágrimas e escorrem-me pela face, visitam-me os corredores da alma, aqueles que tinha fechado a cadeado, para não deixar sair nenhum fantasma ou teia de aranha. Mas as portas escancararam-se... quem somos nós afinal neste universo infinito? Ínfimos grãos de areia, átomos de um corpo bem maior, gigante, de complexidade indefinida!

Resta-nos agarrar o Sopro que ainda temos, abrir os pulmões, enchê-los de ar e concretizar os nossos Sonhos!

Sandra faleceu na madrugada do dia 3 de Janeiro (domingo),
vítima de um atropelamento em plena A29, quando socorria outro acidente. Em tua memória, público este post e dedico-te o videoclip! A música chama-se "Svo Hljótt", que em português será algo como "Silêncio Assim", o álbum Takk quer dizer "Obrigado".

Sandra, é o Silêncio que cumpro em tua homenagem e o Obrigado por teres existido!

domingo, 3 de janeiro de 2010

A Onda



















Fonte da foto:
blogue Angelical

Engulo a areia seca, estaladiça,

onde o Sol pousa a sua carícia dourada…

Guardo no meu baú de espuma branca

vestígios de mãos e pés…

que deslizam, saltam e brincam

nesses finos grãos de ouro,

que agora me banham

o litoral salgado!


Sobre o mar revolto,

sou bailarina e danço…

Cavalgo-te o dorso cristalino

sob um céu de nuvens e penas de gaivotas

e canto as notas agudas do dia,

com os ventos quentes de leste

a trovejar a noite grave que se avizinha!


Por fim, descanso as pálpebras

na luz amena da tarde

e deixo-me boiar

neste tapete de águas profundas…


Mergulho no azul sereno,

chão do meu ser fugaz e ondulante,

e descubro um imenso areal submerso…

Algas, conchas, búzios,

cardumes multicolores

famílias inteiras de golfinhos

habitam-me o mundo subterrâneo!


Mas tenho pulmões de mamífero!

Venho sempre à tona sorver

esse ar fresco que viaja nas tuas costas de mar!