domingo, 26 de dezembro de 2010

Brisa do Oriente













Respiro-te o corpo azul intenso,
estendo-me nesse manto invisível
e o horizonte viaja nos meus olhos de terra…
Levo cerejas doces nos meus lábios rubros
E um fio de mel e canela
acaricia-me os mamilos nus!

Sou a brisa quente do Oriente…!
Percorro-te as madeixas claras,
onde guardas as finas chuvas da Primavera.
Esvoaço no teu manto de seda translúcido,
provo-te as uvas pretas… suculentas…
Visto-me com as pétalas dos teus roseirais vermelhos,
polvilho-te os campos húmidos
com o meu pólen aromático
e as primeiras águas nascem da fonte celeste!

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Pegadas

A espuma consome os últimos vestígios de vida…
Pegadas na areia húmida
caminham, sós, na multidão anónima,
passos cúmplices de namorados que se beijam
ou mais espaçados de amigos que se reencontram…
Pés de crianças soltam gargalhadas agudas
até sucumbirem à onda salgada
que lava e purifica este limiar entre a terra e o mar!

Abandono o desmaio gelado
que me deixou cativa este Inverno.
O vento quente limpa-me os tons violeta da pele
e o Sol acaricia-me o pigmento pálido,
devolvendo-me o moreno macio de outra era!

Corro sobre a areia clara
com a chuva a bater-me nos lábios
e mergulho nesse azul intenso
que me roubou as pegadas da memória…



Riceboy Sleeps - All the big trees from Sigur Rós on Vimeo.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Toque
















Toco-te sem ver a linha do rosto…
abatido, preso na sombra de um plátano despido!
Os aromas quentes,
que te definem o sabor agridoce,
circundam-me a boca húmida,
mendiga desses lábios serenos.
E a tua voz macia
acaricia-me as pestanas pesadas…

Veio a geada nocturna,
cristalizou esta folha branca
com que te escrevo nua,
sentada num banco de jardim.

As tulipas aconchegam-me os cabelos encaracolados
e os pirilampos aproximam-se…
Com as libelinhas e as borboletas
formam uma gruta mágica
e uma clareira de Lua cheia.

domingo, 21 de novembro de 2010

Pétalas














Solto as pétalas de um rosa macio,
atiro-as bem alto no céu claro...
o vento do mar traz a chuva doce
e um perfume de canela e baunilha...
Sinto-me terra húmida!

Os meus ramos nus ao relento
anseiam pela tua visita quente.
Dissipam-se as nuvens da tempestade
e a noite aninha-se junto às minhas raízes.

Beijas-me o útero lacrimejante,
enquanto a minha saliva viaja sobre o teu corpo...
bebes-me em goles de predador,
respiro-te o aroma do desejo,
entras dentro de mim...
e as flores voltam a nascer coloridas!

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

A verdade da crise no cinema


Inside Job Trailer

"Inside Job" de Charles Ferguson, o documentário que faltava para explicar esta diabólica crise sustentada num capitalismo tirano, dependente da ganância e do poder, sem escrúpulos.

Revela a prostituição das contas públicas, das poupanças individuais, o suborno das agências de rating, a corrupção bancária, a destruição de uma sociedade que estava no bom caminho para a sustentabilidade como a Islândia.

O que é preciso para travar este "tsunami"? Primeiro, tirar o poder político das mãos de Wall Street e a seguir impor uma regulamentação dura a qualquer instituição financeira. Terá Obama força ou vontade para o fazer? Parece que não... Um filme a não perder!

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Palcos despede-se com Tintin e Vasco Granja



Sessão especial com Tintin e o seu admirador Vasco Granja. Dois ícones da animação mundial que marcaram gerações.
O jovem repórter e o fiel companheiro Milu, criados pelo desenhista belga Hergé, chegam ao grande ecrã em 3D no Natal de 2011. Deverá ser êxito de bilheteira, tendo em conta os nomes de peso na realização: Steven Spielberg e Peter Jackson (do "Senhor dos Anéis").
Entre os ideais comunistas e os desenhos animados, Vasco Granja trouxe a pantera-cor-de-rosa para Portugal. Aquele que gostava de ter sido Tintin faleceu no ano passado.
Despeço-me com os Bat for Lashes e a música "Trophy"! 

terça-feira, 26 de outubro de 2010

O meu golfinho


"Glass" - música dos Bat for Lashes com excertos do filme "Breaking the Waves" de Lars Von Trier.


Subo no teu voo fresco e salgado,
pele macia, cor da cinza…
Respiro-te esse perfume de mar,
de espuma branca e fofa.

Os cabelos esvoaçam com a brisa e as gaivotas,
sacodem os caracóis negros no teu dorso…
Agarro-me à tua barbatana escorregadia,
prendo-te entre as coxas nuas,
queimadas do sol escaldante do meio-dia…
E… num salto acrobático, ganhamos asas,
quase tocamos o carrossel de nuvens
e o azul quente que desfoca a linha do horizonte…

Mergulhamos por fim nesse oceano mágico,
onde se escondem as lágrimas e os sorrisos
de quem se ama para sempre.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Nuno Rocha e o cinema em curta-metragem



Mais um convidado do Palcos Indiscretos.

Natural do Porto e com apenas 33 anos já foi contratado pela produtora norte-americana "The Institute" de Michael Bay e Scott Gardenhour.

No ano passado, venceu o prémio Zon Criatividade em Multimédia com a curta "3x3", que passou nas salas de cinema com o filme "Slumdog Millionaire". Foi o trampolim para os EUA, onde rodou outra curta-metragem: "Vicky and Sam".

É sócio-gerente da produtora Filmesdamente, sediada no Porto. Conjugando os conhecimentos cinematográficos e publicitários, realizou a primeira curta para a marca LG "Momentos", premiada recentemente na Grécia no THESS International Filme Festival.

A próxima aventura de Nuno Rocha é o cinema a três dimensões.

No próximo dia 4 de Novembro, será o convidado especial da CURTA 3 - Mostra Nacional de Curtas-Metragens de S. João da Madeira, que decorre até dia 6, nos Paços da Cultura do concelho. Uma oportunidade para ver as curtas "3x3" e "Vicky and Sam". A entrada é gratuita.

sábado, 9 de outubro de 2010

Olhos lívidos

















Olhos lívidos pendem-me das cortinas escuras,
são gotas espessas escorrendo pelo vidro gelado
e no parapeito uma poça salgada e difusa
onde vejo o meu rosto desfigurado.

Escondo as cicatrizes nas noites sem luar,
quando as montanhas se dissipam no horizonte
e o céu tinge-se de negro absoluto...
é um véu que se abate sobre a terra clara
e apaga qualquer vestígio de luz.

Morcegos, corujas e mochos,
insectos e lobos
são os únicos sobreviventes desta clausura.
Devoram as presas com prazer e gula
protegidos pela cegueira dos animais diurnos.

Escuto os gemidos atrás da folhagem húmida...
...começou a chover...
o vento empurra-me as portadas de madeira fina
sacode os ramos seminus dos carvalhos
agora ainda mais despidos e solitários
E as nuvens fogem da aurora matinal
cavalgando para a linha umbilical
que prende a terra ao mar.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Saio















Em cada ramo dobra-se, fugidia,
a luz mortiça do final do dia.
Recolhem-se as conversas e as brincadeiras de rua..

Saio por esta porta, decidida!

Perpasso o jardim de madressilvas, jasmim e rosas,
nos dedos escondo esse aroma de veludo...
engulo o ar frio da noite que se inicia
e mergulho no oceano prateado da Lua!

Enrosco-me na areia fofa,
embalada pela melodia das folhas...
o chocalhar sereno e grave dos búzios
nos meus pulsos magros
e o cântico dos rouxinóis
baloiçando no cimo das árvores...

Parto para onde os sonhos governam
e a terra comanda a vida!

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

A estrela e o vento



















Vivo em bicos de pés
e braços estendidos ao vento…
No olhar um mar de violetas.

A chuva doce
desagua-me nas pálpebras salgadas,
desliza pelo rosto pálido
e perde-se no contorno dos lábios…
Roubo-lhe o sabor
com a ponta da língua
e deixo-me cair…!

À noite, embalas-me
numa meia-lua de rosmaninho e jasmim;
De dia és o carrossel endiabrado
que sobe, desce e gira
até que as cores se esgotem
nesta aguarela de luz e sombras.

Cintilo no teu dorso invisível…
Juntos, desvendamos os mistérios cósmicos,
conquistamos o espaço desconhecido.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010
















Sabes a orvalho fresco,
a terra molhada…
E no olhar…
escondes essa luz quente do meio-dia,
em que me derreto para ganhar outra vida
e viajar nas tuas asas de algodão branco.

Esqueço as pedras e o charco turvo,
onde lavo o rosto pesado
e silencio esse uivo agudo
trazido pelo corvo marinho.

Sou garça branca,
alimento-me do teu rio,
pedaço de céu
que serpenteia no relevo acidentado
das tuas escarpas de granito,
procurando a espuma clara,
o azul profundo e salgado
que te banha o pôr-do-sol tardio!

Sleep Alone from Bat for Lashes on Vimeo.

sábado, 10 de julho de 2010

Sereia



















Fonte: Imotion


Os músculos ardem,
gritam-me nas entranhas moídas
notas de uma pauta de silvas e granito..
in de fi ni da...
Estrangulam-me as veias moles,
roídas pelo zumbido agudo
da abelha que perdeu o mel.

Desaguo numa foz sem oceano,
numa terra vazia, deserta.
A folhagem no topo das árvores nocturnas
estremece com o meu sorriso aberto
e uma lágrima salpica a teia de aranha
como o orvalho da manhã.

Onde estou?
Neste paraíso de rocha e verde profundo,
o mar ruge atrás das escarpas.
Espreito por entre dois arbustos de erva cidreira
e ouço o cântico salgado e sedutor.
Embalas-me numa melodia
forte, grave, quente...
… corro para os teus braços...
e de novo sou sereia!

terça-feira, 8 de junho de 2010

Baloiço























Ilustração por Anna Ignatieva

Penduro-me nesse sopro nocturno
de sabor amargo e doce,
fresco como uma cereja madura,
intenso como o aroma do mar salgado…
E sobrevoo o meu corpo desmaiado
entre rubras tulipas e rosas pálidas!

A terra infiltra-se-me nos vasos sanguíneos
e um último raio de lua
acaricia-me a face com a sua mão prateada,
tão macia quanto o veludo negro
da minha cabeleira encaracolada
ou a seda do meu vestido verde.

domingo, 6 de junho de 2010

Nasceram-me asas























Flashes by Anna Ignatieva

"Durante a noite olhava o céu e imaginava que conseguia transformar-me em fumo para deslizar através das ripas da gelosia fechada. Brincava imaginando que um raio de lua me batia nas costas e me nasciam asas cheias de penas para começar a voar."

in "Eva Luna" de Isabel Allende


quarta-feira, 2 de junho de 2010

What is your Shape?

Sophie "Hunger" sacia-me esta "fome" de formas musicais :)




Lady or gentleman
You're either or
It's morning, it's evening
It's once or it's more"
What's that name? Eh. what's that name? What's my name again?
When I held up the roof the floor would cave in

Shadow boxing, monologue and we talk and we talk and we talk
Shadow boxing, monologue and we walk and we walk and we walk

Scribbling and coughing a line in the winds
So busy with oiling your sandcastle's hinges
What's that name yeah what's that name yeah what's my name again?
Stamp on the ground and the ceiling falls in

Shadow boxing, monologue and we talk and we talk and we talk
Shadow boxing, monologue and we walk and we walk and we walk
Shadow boxing, monologue and we clean and we clean and we clean
Shadow boxing, monologue and we dream and we dream and we dream

And we go down to the beggar, to reach for the Queen
And It's now and forever, and we are and we seem
And we sculpture a statue to worship and bear
The chaos that's behind the glass of
who and what and who and what we are

sábado, 22 de maio de 2010

Desejos vãos























Boneca encantada by Anna Ignatieva

Eu queria ser o Mar de altivo porte
que ri e canta, a vastidão imensa!
Eu queria ser a Pedra que não pensa,
a pedra do caminho, rude e forte!

Eu queria ser o Sol, a luz intensa,
o bem do que é humilde e não tem sorte!
Eu queria ser a Árvore tosca e densa
que ri do mundo vão e até da morte!

Mas o Mar também chora de tristeza...
As árvores também, como quem reza,
abrem, aos Céus, os braços, como um crente!

E o Sol, altivo e forte, ao fim de um dia,
tem lágrimas de sangue na agonia!
E as Pedras... essas... pisa-as toda a gente!

Florbela Espanca

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Sweet dreams are made of...



- Fantástica crítica social dos Eurythmics


Vivemos cegos...
as pestanas carregam as cinzas
de lágrimas ardidas
e o fogo vai engolindo verdades,
poluindo a justiça!

Vivemos cegos com os "sonhos"
que nos tingem o pensamento!
São ilusões, mentiras...
que tomamos como anti-depressivos!

Mas o mundo está deprimido...
Vejam!
Basta abrir os olhos
e ver o que está por detrás desses "sonhos"!

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Gerânios


Ilustração por Anna Ignatieva

No regaço, guardo um molho de gerânios,
colhidos na berma do pensamento,
entre a estrada de asfalto quente
e o passeio de cimento pálido e vazio.

Vagueio sob o Sol forte do meio-dia…
A luz pesa-me nas pálpebras semi-cerradas
e torra-me a pele nua dos braços.
O vestido escalda-me os seios hirtos,
dança com a brisa quente do deserto
e desliza junto aos pés descalços,
sobre as águas transparentes que te enchem o rio!

Desmaio numa cama de pétalas rubras…
Os teus ramos verdes de folha larga
aconchegam-me na noite escura
e uma coruja de penas claras
anuncia o despertar de um novo dia.

domingo, 2 de maio de 2010

Uivo da Natureza















Fonte: blogue Originais... E não só!

Com os meus braços de fogo,
inflamo a terra moribunda
e os caminhos secos do deserto
que te irrigam o corpo velho.

O azul que te enchia os lagos e os rios
tingiu-se de negro e pó…
São crateras vazias,
buracos onde a tua alma definha.

As águas levantam-se em espuma branca
e sacodem o sal na areia escura,
derrubam as muralhas de cimento
que te aprisionam dentro de uma cintura
de casas e indústria.


O mar uiva junto aos meus pés descalços.
Acaricio-te o rosto poluído,
lembrando-te cristalino e transparente.

domingo, 25 de abril de 2010

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Princesa Desalento




















Fonte da imagem: blogue Coração de Amores (Im)Perfeitos

Minh'alma é a Princesa Desalento,
Como um Poeta lhe chamou, um dia.
É magoada, e pálida, e sombria,
Como soluços trágicos do vento!

É fágil como o sonho dum momento;
Soturna como preces de agonia,
Vive do riso duma boca fria:
Minh'alma é a Princesa Desalento...

Altas horas da noite ela vagueia...
E ao luar suavíssimo, que anseia,
Põe-se a falar de tanta coisa morta!

O luar ouve minh'alma, ajoelhado,
E vai traçar, fantástico e gelado,
A sombra duma cruz à tua porta...

Florbela Espanca

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Perdida na floresta













Fonte da imagem: Filha da Lua Negra

Dormem os bichos
nas tocas de folhas e ramos secos.
Espreitam a meia-lua dourada
e o seu véu cintilante de estrelas aladas...

Escondo-me atrás de um carvalhal,
abraço o tronco denso e rugoso,
aspirando o aroma quente
que serpenteia no ar em tons rosa e violeta.

Sabores frescos, doces, suculentos
derretem-me na boca sedenta de alimento...
Procuro-te entre os ramos das amoras
e os pés das cerejas maduras…

As cigarras cantam
e os grilos dançam
sob os holofotes dos pirilampos…

E antes da aurora despertar a floresta
já os teus lábios me percorrem o corpo febril
e devoram o sal que desliza do meu ventre…

És o palco da vida onde danço livremente!