terça-feira, 3 de novembro de 2009

As últimas chuvas


Fonte da foto: Suspiros e Devaneios...


As cores do fogo
lambem-me a seiva do tronco,
crepitam-me nas folhas estaladiças
que brincam às escondidas
com os meus pés disfarçados de botas!

Acelero o passo vagaroso e sombrio,
com o vento húmido do Outono
deslizando-me pelos cabelos despenteados
e acariciando-me o rosto cansado!

Os estalidos são agora mais frequentes,
no manto colorido de vermelho, castanho e laranja!
As texturas macias do verde
são silêncios na pauta desafinada
e um voo infrutífero das notas mais ousadas!

Suspensa na névoa do entardecer,
a batuta aponta para o mar revolto,
emudecendo a espuma branca
que borbulha no cimo das ondas douradas!

Gaivotas famintas
lançam-se neste espelho azul salgado,
torrado pelos violetas do crepúsculo…

Abrando o passo ofegante,

com um rasto de pegadas vazias,

bebo as últimas chuvas do dia

e estendo-me…

sobre um lençol de luz prateada…

1 comentário:

  1. Chove me mim,
    chuva que não lava,
    nem sequer transparente é...
    Deixo chover, esvaziar-se o meu céu...
    ouço os pingos bater no chão
    ecoando em estrondos,
    que ninguém consegue escutar...
    a voz apaga-se, o olhar turva-se
    e não me deixa ver a imagem do que sou,
    do que quero ser...
    diluem-se os meus sonhos,
    inundam-se os meus caminhos,
    desfazem-se as minhas rotas,
    as que ainda não construí
    nem sequer havia sonhado...

    Deixo chover
    no meu rosto e na minha alma
    e reconforto-me por saber
    que nenhuma gota voltará ao lugar de origem...
    beijo cada gota que cai...

    a chuva, quando cai, faz chover...
    em mim!...

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